Existe algo nos esperando atrás do espelho. Isso, que não está aparente, talvez nos procure em brechas de espontaneidade que teimam em ser consideradas atos falhos ou mal calculados. Sim, isso nos convida através de sutilezas que, por vezes, chamamos de coincidências. Pois bem, isso que nos chama e nos convida quer revelar que há mais camadas de complexidade em tudo o que julgamos saber e que o espaço para certezas é cada vez menor.
Existe um mistério além do espelho. Chamaremos isso de lado bê.
De forma natural, a inclinação em descobrir diferentes partes de nossa existência nos levará à frente do espelho. Contudo, poderemos ficar parados aí quanto tempo quisermos: o tanto quanto for confortável. Talvez um dia, querendo conseguir transformar ausências em palavras, transformar faltas em soluções criativas, nós nos colocaremos à disposição do lado bê. Nesse dia descobriremos que será necessário lutar com uma espécia de duende (aquele de Federico Garcia Lorca): o lado bê que nos chama precisa ser conquistado e ele cobra caro para ser revelado.
Não há truques, métodos, nem livros. Ninguém chega na ilha de Serendip através de coordenadas. Para atravessar o espelho, usaremos mente, coração e tripas. Não saberemos onde vamos chegar. Não há garantias se chegaremos em algum lugar. Há o mistério da descoberta e há o regresso à segurança da continência. O lado bê vai propor o contato com a possibilidade de aumentar a imaginação, de capturar mais cores, de enxergar um pouco além.
Mas ninguém pode garantir a tua criatividade. No máximo, podemos nos colocar à diposição do mistério juntos. É o que faremos.
Por Bernardo Leso